Assunto polêmico, o famoso “chip da beleza” tem causado preocupação a especialistas em relação ao seu uso com objetivos não apenas medicinais. A percepção dos médicos endocrinologistas é a de que há um grande número de pacientes chegando aos consultórios com efeitos adversos desses implantes hormonais.
É consenso que está ocorrendo uma banalização na indicação de hormônios no Brasil e isso tem trazido mais riscos do que benefícios às pacientes. Frente a isso, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) divulgou, recentemente, um posicionamento sobre o uso de implantes de gestrinona no Brasil, através do Departamento de Endocrinologia Feminina, Andrologia e Transgeneridade (DEFAT), o que gerou grande repercussão e ganhou destaque e apoio de órgãos importantes da área de saúde, como a Associação Médica Brasileira.
De acordo com a SBEM, o implante de gestrinona, conhecido popularmente como o “chip da beleza”, não é uma opção terapêutica reconhecida e recomendada pelas principais entidades do mundo, entre elas a Endocrine Society (Sociedade de Endocrinologia Americana), pela North American Menopause Society (Sociedade Americana de Menopausa – NAMS) e pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).
O documento foi encaminhado à ANVISA, a fim de que medidas sejam adotadas para incluir a gestrinona na lista C5 ( medicamentos anabolizantes) e, ainda, aumentar a fiscalização do seu uso inadequado e não aprovado através de implantes hormonais. Por isso, o uso do “chip da beleza” não está autorizado pela Anvisa devido à ausência de estudos científicos que indiquem a sua eficácia. O papel de esclarecer à população vem sendo feito pela SBEM em diversas áreas ligadas aos hormônios.
AFINAL, O QUE É “CHIP DA BELEZA”?
O “chip da beleza“, como conhecido popularmente, é um implante hormonal que está sendo utilizado para favorecer a perda de gordura e ganho de massa muscular, já que é constituído principalmente pelo hormônio gestrinona, o qual desempenha essas funções no organismo. Ele é feito de silicone, mede cerca de 3 cm e deve ser inserido por baixo da pele após anestesia local.
No entanto, esse dispositivo foi desenvolvido para atuar principalmente no tratamento da endometriose, uma vez que é capaz de aliviar os sintomas e promover a interrupção do ciclo menstrual. Logo, seu uso não deve estar associado apenas a fins estéticos; é importante levar em consideração os demais efeitos que podem ser provocados pelo mesmo no organismo.
A solicitação de exames hormonais em mulheres saudáveis, no Brasil, tornou-se uma realidade bastante perigosa quando a indicação de hormônios tem como finalidade a estética: antienvelhecimento, ganho de massa muscular, redução da celulite, perda de peso e aumento de libido. Tal prática está sendo condenada pela SBEM.
O Dr. Alexandre Hohl, membro da Comissão de Comunicação da SBEM, afirma que o importante é ficarem claros os riscos que a paciente corre ao se submeter ao implante hormonal e não o fato de seu uso ser permitido ou não, se isso é ético ou não. De acordo com suas palavras, “O que acontece é que a grande maioria dessas pessoas são ingênuas e se submetem a isso, mesmo sabendo de possíveis problemas, pois acreditam que o benefício é maior que o risco, o que não é verdade. É um risco à saúde”.
Daí a necessidade da recomendação médica, preferencialmente de um endocrinologista ou um ginecologista, que avaliará não só o estado geral de saúde da mulher bem como o real objetivo do implante hormonal. Quando o assunto é hormônio, somente o especialista tem conhecimentos e estudo para a indicação do uso desse tipo de dispositivo. Vale destacar que cada tratamento precisa ser individualizado.
DE QUE FORMA FUNCIONA O IMPLANTE HORMONAL?
O dispositivo “chip da beleza” libera, diariamente, uma combinação de hormônios na corrente sanguínea, na mesma quantidade, potencializando a perda de gordura, eliminação da celulite e ganho de massa muscular. Este efeito estético é conseguido desde que haja uma alimentação saudável, equilibrada e a prática de atividade física.
Já quando a questão é a saúde feminina, o tratamento da endometriose é a principal finalidade deste implante hormonal. Além disso, ele também ajuda a aliviar os sintomas da TPM, possui efeito contraceptivo, interrompe a menstruação, promove o aumento da libido e regula os níveis hormonais na pós-menopausa, aliviando seus sintomas.
QUAIS SÃO OS POSSÍVEIS EFEITOS COLATERAIS DO “CHIP DA BELEZA”?
Afinal, quais são os efeitos colaterais mais frequentes do implante do “chip da beleza” nos casos em que não há indicação para o seu uso. Os principais são:
- Aumento de pelos no corpo e rosto;
- Queda de cabelo;
- Aumento da acne, devido à maior oleosidade da pele;
- Aumento dos níveis de colesterol;
- Resistência à insulina;
- Sangramento fora do período menstrual;
- Inchaço;
- Tendência a engordar ou dificuldade para emagrecer;
- Aumento do clitóris;
- Alteração da voz;
- Alteração na fertilidade;
- Alterações cardíacas e hepáticas, em alguns casos.
EM QUE SITUAÇÕES O IMPLANTE HORMONAL NÃO DEVE SER INDICADO?
O uso do implante hormonal não é indicado para pessoas que possuam doenças cardíacas, diabetes, colesterol alto, obesidade e alterações nos rins ou fígado. Isso porque a liberação de hormônios na corrente sanguínea poderá trazer maiores complicações para a saúde. Haverá uma sobrecarga de hormônio, além do necessário, na circulação. Além disso, o uso do “chip da beleza” não é indicado para mulheres que estejam grávidas ou lactantes.
O “BOOM” DA PRESCRIÇÃO HORMONAL
Sem sombra de dúvidas, houve um aumento significativo das prescrições hormonais que vem preocupando muitos médicos especialistas. Estes revelam que o “boom” dos implantes hormonais vem alimentando um mercado milionário e ainda chamam a atenção para o exercício ilegal da endocrinologia.
De acordo com as palavras da presidente da SBEM-PR, endocrinologista Silmara Leite, vive-se um momento preocupante no que se refere aos tratamentos hormonais. O exercício ilegal da endocrinologia foge não apenas da ética profissional como também representa grande risco à saúde pública.
Na mesma linha de pensamento, a endocrinologista Dolores Pardini, vice-presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina da SBEM e chefe do Ambulatório de Menopausa da UNIFESP, destaca que a reposição hormonal é recomendação para mulheres que entram na menopausa e que apresentam sintomas. Além disso, a médica especialista faz uma crítica à quantidade de exames que têm sido solicitados em pacientes saudáveis, na tentativa de justificar a reposição indiscriminada: “Isso é uma banalização da terapia hormonal, que tanto a SBEM quanto o Conselho Federal de Medicina são enfaticamente contrários. É preciso ter comedimento para fazer a reposição quando o hormônio está em falta, pelos riscos que pode trazer”.
Como percebe-se, é preciso muito cuidado quando o assunto é saúde feminina. No Espaço Mulher estamos atentas a estas questões e, juntas, podemos avaliar quais as melhores alternativas para o que a paciente busca, analisando cada caso de acordo com suas particularidades.